OddThemes © 2015Distributed By Blogger Templates


Chegamos à nossa 10ª edição da revista eletrônica Acho Digno e quem diria que em dois anos de existência conseguiríamos realizar tantos sonhos?! Uma revista que pauta moda, comunicação, cultura, educação, tudo relacionado à questão racial. Tudo relacionado ao nosso bem viver. Tentamos transmitir a arte do nosso semelhante nessas páginas de forma digna, fazendo o correio nagô ecoar nos quatro cantos do mundo. Sim, no mundo, pois já conseguimos chegar à Tânzania, Angola, Senegal, França, Alemanha, Estônia, diversos estados brasileiros e agora tivemos a oportunidade de ir para Nova Iorque conhecer um pouco da “capital do mundo” para poder compartilhar conhecimentos, informações e experiências como os nossos leitores.

Por meio do projeto Identidades Transatlânticas, contemplado com apoio financeiro do Edital Mobilidade Artística 2016, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), a revista eletrônica Acho Digno participou de uma residência artística de dois meses (agosto e setembro), em Nova Iorque, com o intuito de conhecer outras mídias negras e um pouco da cultura e arte do Bronx, Harlem e Brooklyn. A escolha desses lugares se justifica por se caracterizarem como centros culturais, com uma grande parcela de moradores negros nesses locais com tradições que se mantêm com o passar dos anos. São lugares marcados e conhecidos por sua arte, cultura e lutas negras. Distritos que são o berço de diversos talentos na área da música, do cinema, da moda e do teatro. O intuito desse projeto é poder ser capaz de destrinchar os acontecimentos do ocidente negro para além das fronteiras territoriais e conseguir dialogar como bons aliados nesse mundo de cultura digital.

New York City (NYC)Ao chegar à cidade escutamos jazz no Harlem, vimos cultura hip hop forte no Bronx, contemplamos shows de Janelle Monae, Ice Cube no Brooklyn. Vimos pessoas negras estilosas por toda parte. Trocamos olhares, trocamos sorrisos, tivemos algum tipo de comunicação e produzimos algumas matérias que poderão ser conferidas nestas páginas da primeira edição internacional da Acho Digno. A NYC, ou Nova Iorque para nós brasileiros, é uma cidade que exerce enorme impacto social e cultural em todo mundo por meio do seu comércio, finanças, mídia, arte, moda, pesquisa, tecnologia e educação. Ela é considerada como a capital cultural do mundo com a maior comunidade afro americana. As indústrias criativas, como novas mídias, publicidade, desing e arquitetura representam uma parcela crescente do emprego. Se tratando de comunicação, a cid­­ade é o principal centro em massa da América do Norte. É o local que mais sedia companhias de mídia e comunicações do país. A maioria das grandes editoras de revistas dos Estados Unidos está sediada em Nova Iorque. É identificada como um local altamente ativo e multicultural.

Imprensa Negra – No Brasil é comum falar em mídia negra alternativa, porém em Nova Iorque foi possível constatar que fizeram dessa oportunidade um grande mercado financeiro e de grande potencial. Em relação ao segmento de revistas afro, os Estados Unidos possuem um dos mais extensos e importantes mercados. Segundo dados da ONG MPA (The Association of Magazine Media), são cerca de 200 publicações voltadas para esse público. Esse mercado editorial norte americano é uns dos mais bem estruturado com uma rica diversidade na gama de publicações e é um nicho com publicações muitos específicas.  Tais publicações souberam acompanhar e pautar a constante evolução da sociedade, interpretando o mundo moderno do seu público sem subestimá-los.

Essa realidade é um reflexo de uma série de conjunturas sociais, econômicas e culturais. São publicações com textos bem trabalhados, com projeto editorial que valoriza a força da palavra, da imagem e que busca o equilíbrio entre a escrita acadêmica, artística e jornalística. São revistas que prezam pelo seu conteúdo. Tratar a partir da perspectiva do individuo negro com profundidade, sem a simples preocupação em formar mais meros consumidores, e sim leitores interessados e/ou engajados em uma causa.

O mercado editorial negro norte americano já esta fortemente estabelecido e respeitado. Exemplos dessa afirmação são das revistas Essence e Ebony que juntas somam quase dois milhões de assinantes. Essas revistas entre outras mídias negras como: The Grio, Black Voices, The Root, Clucth Magazine, Black New, continuam a oxigenar o pensamento do cidadão negro contemporâneo, pois tais publicações reforçam uma mensagem de empoderamento da comunidade negra norte americana. Por tanto, por meio da revista eletrônica Acho Digno a proposta é poder continuar o dialogo entre as comunidades afro brasileira e afro estadunidense.

O que podemos fazer com a escrita?A partir desses dados, é possível começar a analisar a importância dessas publicações destinadas ao público afro para a criação de uma identidade com uma representatividade positiva que está preocupada em retratar esse indivíduo de forma digna. Seja como for e no espaço que tivermos, precisamos ter o compromisso de compartilhar experiências e refletir sobre cada passo dado, buscando as melhores soluções para a evolução de um coletivo. Segundo o diretor e fundador do coletivo Black Out For Human Rights, Ryan Coogler, o ativismo é sobrevivência. Se pararmos para pensar na origem da maioria das pessoas provenientes de grupos marginalizados, todos temos essa linhagem. Estamos sobrevivendo, também, por meio da nossa escrita, por meio da nossa mídia negra. Conhecimento é poder. No momento em que uma Secretaria de Cultura acredita e apóia um projeto de imprensa negra e cultura digital, ela possibilita a nossa existência e permanência no cenário. Continuamos produzindo uma mídia negra de qualidade. Resistindo e refletindo sobre as nossas diversas formas de atuação e ação na sociedade, pois a nossa tarefa aqui é o compartilhamento de informações. Seguimos na luta e em frente. Boa leitura!

Revistas Negras

Black Enterprise Magazine: O principal negócio, investimento e riqueza de construção de recursos para os afro-americanos. Esta revista é o maior e mais antigo recurso de impressão para negros empresários. www.blackenterprise.com
.
Black MBA Magazine: A revista oficial da organização profissional National Black MBA Association, que lidera na criação de riqueza econômica e intelectual para os negros. www.nbmbaa.org

Essence: A revista de estilo de vida preeminente para a mulher afro americana de hoje, chegando a quase 8 milhões de leitores todos os meses. www.essence.com

The Source: Marcado como a Bíblia da cultura e política do Hip-Hop. Incluem revisões de música, entrevistas exclusivas e comentários sobre artistas e a indústria da música independente. www.thesource.com

New Vision (NV): Uma revista nacional, bi-mensal, de negócios para profissionais urbanos, empresários e pensadores avançados. NV revista foi criada como mais do que uma revista de negócios para os profissionais urbanos. www.nvmagazine.com

Shereese Magazine: Esta revista para mulheres afro-americanas apresenta conteúdo editorial exclusivo sobre a manutenção de cabelo em casa, novas tendências, tópicos atuais, atualização estilista e educação. www.shereese.com

African American Golfers Digest: Dedicado à crescente quantidade de afro-americanos em todo o país que têm uma paixão pelo esporte de golfe. www.africanamericangolfersdigest.com

Black Bride and Groom: Revista para casais afro-americanos como eles se aventuram no mundo de experiências de casamento, decoração, lua de mel hotspots e pré/pós-casamento. www.blackbrideandgroom.com

Revisão de Livros Negros: A única revista nacional dedicada exclusivamente a cobrir livros de autores negros e os interesses dos leitores afro americanos. www.bibookreview.com

Gospel Truth Magazine: Primeira revista de estilo de vida para os afros americanos que têm uma paixão pela igreja e música gospel. www.gospeltruthmagazine.com


Harlem World Magazine: Crônicas Harlem celebridades, cultura, moda, estilo de vida, saúde, esportes, notícias, negócios e filantropia. Ela serve como um portal para uma audiência crescente, jovem, tendência, multicultural. www.harlemworldmag.com

Entre os dias 15 e 17 de novembro de 2016, Porto Alegre/RS sediou o I Simpósio Internacional de Saúde da População Negra. Contando com a presença de mais de mil participantes, o encontro proporcionou um espaço para o debate sobre o tema entre gestores da área, sociedade civil e trabalhadores.

Uma programação intensa com palestrantes locais, nacionais e internacionais, movimentou os três dias do evento com mesas redondas, lançamentos de livros, feira de artesanato, shows e uma roda de diálogo entre comunicadores, no qual tive o prazer de participar, representando a revista eletrônica Acho Digno, ao lado da apresentadora do Programa Nação Fernanda Carvalho, junto com o estudante de Relações Públicas, Eduardo Plínio, e mais estudantes da área da psicologia, nutrição e publicidade e propaganda.

Colocar a mídia no centro desse debate é traçar um caminho para combater e enfrentar o racismo, também existente dentro da área da saúde, e assim buscar estratégias de ações efetivas para a melhoria da saúde da população negra. As discussões do I Simpósio Internacional de Saúde da População Negra buscam meios de fortalecer no país a implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, e também que sejam intensificadas ações dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) direcionada a esse recorte social.

A mídia tem o papel de saber transformar os dados em informações para que seja mais acessível à compreensão da população em torno do assunto, bem como, é necessário que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra chegue de modo mais amplo para os profissionais e pacientes. Esses dados aliados a informação serve para orientar e transformar a vida das pessoas. No entanto, avaliamos que ainda falta uma divulgação massiva sobre o tema nos meios de comunicação tradicionais e que não basta à mídia especializada fazer essa tarefa sozinha, pois é preciso popularizar a informação. Não estamos sós. Informação é poder. O diálogo tem que ser de alto nível para assim podermos responder as questões da sociedade civil. Precisamos saber que esse é o momento de empoderar os grupos marginalizados. Um trabalho em conjunto precisa ser realizado para atingir a sociedade com um todo. Não podemos fazer ações separadas.

“A mídia, em praticamente todas as esferas, tem sido uma fortalecedora do racismo no Brasil, na medida com que reforça e perpetua estereótipos e não trata com a seriedade que deveria questões do povo negro. Isso mostra a força que a mídia tem. E se a tem, podemos usar o (ainda pouco) espaço que temos para combater esse mesmo racismo. A saúde da população negra é um dos muitos assuntos que ainda precisam sair da invisibilidade midiática. Por isso, acho muito importante ter uma mesa de discussão em um Simpósio sobre o tema. E é uma honra, como uma mulher negra da mídia, estar presente”, revela apresentadora do Programa Nação da TVE, Fernanda Carvalho.

Ao assumirmos a sociedade como racista podemos perceber o quanto isso impacta na vida dessa população. Muitas vezes faz com que mortes evitáveis aconteçam e isso impede o processo de igualdade, universalidade e equidade, tais princípios do SUS. Então, podemos afirmar que o racismo é um fator determinante para o adoecimento. Ele orienta a organização das sociedades, bem como as instituições e define as formas como elas irão prestar os seus serviços para determinados grupos. Desse modo o I Simpósio Internacional de Saúde da População Negra possibilitou ganhos substanciais para a área da saúde, pois reuniu pessoas comprometidas com o atendimento ao direito humano à saúde, tanto do Brasil como de outras partes do mundo.

Nesses três dias de evento podemos dizer que a capital gaúcha, principalmente ao redor do Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e o Kilombo do SUS, uma estrutura montada próximo ao espelho d’água na Redenção, ficou mais conscientes e preta, porém queremos que essa realidade se reflita nos 365 dias do ano, pois o direito à saúde está previsto na Constituição Federal, sendo obrigação do Estado prover os serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O diálogo já começou. “A troca de saberes e a construção de parcerias estratégicas garantirão o fortalecimento de redes para o enfrentamento e a desconstrução de iniquidades que, ainda, entravam o atendimento integral à saúde de população negra”, afirma a coordenadora técnica de Maria Mulher Organização de Mulheres Negras, Maria Conceição.  


                           Por Amanda Dias* 

Foto do perfil: Julia Morais

Antropofagia é um ato ritual de comer uma parte ou várias partes de um ser humano, e foi também, a palavra que martelou o meu juízo quando pensei em descrever o primeiro dia da Oficina de Comunicação do projeto Identidades Transatlânticas neste diário de bordo.

Nesta segunda, 10, a jornalista e editora da revista Acho Digno, Camila de Moraes deu início à oficina que acontece até a sexta-feira, 14, narrando a sua trajetória enquanto mulher negra que transpôs os muros racistas e ousou trilhar os tortuosos caminhos jornalísticos. E não poderia ter sido mais feliz, ela hoje é editora da revista cultural que é referência de sucesso e representatividade étnica no Brasil.

Fruto de muito trabalho, a Acho Digno está na 9° edição e já foi lida em países como Senegal, França, Tanzânia, Angola, Alemanha e acaba de voltar de Nova Iorque. É isso mesmo, New York City, bebê! E para contar essa experiência e um pouco do que viu e viveu lá que a Camila ofereceu uma oficina para jovens e artistas comunitários, ou seja; imperdível. Sobretudo quando você é uma mulher negra estudante de jornalismo, carente de referências e confusa em relação ao seu futuro na área.

Se você encontra a oportunidade de se enxergar no outro, igualzinho a você, mas que já ocupa um espaço de liderança à frente de um projeto de mídia étnica de sucesso que além de informar, forma e alimenta o público leitor de referências positivas, não existe outra alternativa que não seja agarrar e aproveitar ao máximo esse momento de aprendizado.

Hoje, Camila falou sobre suas referências, sobre como ela e sua equipe pensam nas pautas e em cada detalhe da diagramação da revista, como tirar idéias do papel, e ainda sobre as estratégias de sustentabilidade e divulgação da revista e eu que tinha fome e sou gulosa, só pude comer tudo isso com caneta, papel e sonhos.


*Estudante de jornalismo na UFRB e participante da Oficina de Comunicação do Projeto Identidades Transatlânticas da revista eletrônica Acho Digno

Fotos na oficina de hoje na construção do mural de identidade







Projeto realiza oficina de comunicação para jovens e artistas comunitários
Contemplada no Edital de Mobilidade Artística revista eletrônica oferece ação gratuita com vagas limitadas

A revista eletrônica de Salvador, Acho Digno, realiza entre os dias 10 e 14 de outubro uma oficina de comunicação para jovens e artistas comunitários. Com duração de 40 horas, a interlocução dessa atividade será feita pela jornalista e editora da revista Camila de Moraes. A atividade que é gratuita e tem vagas limitadas, é também uma contrapartida do Projeto Identidades Transatlânticas, contemplado com apoio financeiro do Edital Mobilidade Artística 2016, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA),
Nessa oficina serão apresentados conceitos de comunicação, ensinamentos básicos para produção de uma revista eletrônica, além do relato da experiência da residência artística vivenciada pela jornalista na cidade de New York para realização de uma pesquisa cultural sobre a cultura e arte dos distritos do Bronx, Brooklyn e Harlem. Todas essas ações integram o Projeto Identidades Transatlânticas no qual tem a tarefa de compartilhar informação e conhecimentos com os demais representantes para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Segundo a jornalista, as relações humanas são fortemente mediadas por tecnologias e comunicações digitais. “Com posse dessas ferramentas, novas e velhas tradições, locais e globais são compartilhadas a todo instante nas mais variadas formas de linguagem. Uma existência de múltiplas modalidades de comunicação com capacidade de reconfigurar e criar novos sentidos nas diferentes camadas do processo de comunicação. Essa oficina é para oferecer novos olhares e novas perspectivas de outras possibilidades para comunicarmos”, revela Moraes.
O Projeto Identidades Transatlânticas tem o intuito de analisar a importância de mídias negras norte americana, além de revistas destinadas ao público afro, para criação de uma identidade com uma representatividade positiva que está preocupada em retratar esse indivíduo de forma digna. “Poder ter a oportunidade de viver dois meses, entre agosto e setembro deste ano, em New York, respirar, sentir e ouvir outras experiências e agora poder colocar em prática, por meio da nossa revista eletrônica Acho Digno e dessa oficina, todo esse conhecimento adquirido é poder dar continuidade a um trabalho coletivo, pois multiplicar o conhecimento, empodera a nossa população e é isso que queremos desde o início. Acreditamos naquela premissa que representatividade importa sim”, analisa a jornalista.
Para participara da oficina é necessário fazer a inscrição online no blog da revista eletrônica Acho Digno (www.achodignoarevista.blogspot.com.br). Os selecionados serão comunicados por e-mail e informados do local da atividade que acontecerá na próxima semana, de segunda-feira a sexta-feira, das 8horas às 18horas, com direito a certificado.
Fundo de Cultura do Estado da Bahia (FCBA) – Criado em 2005 para incentivar e estimular as produções artístico-culturais baianas, o Fundo de Cultura é gerido pelas Secretarias da Cultura e da Fazenda. O mecanismo custeia, total ou parcialmente, projetos estritamente culturais de iniciativa de pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado. Os projetos financiados pelo Fundo de Cultura são, preferencialmente, aqueles que apesar da importância do seu significado, sejam de baixo apelo mercadológico, o que dificulta a obtenção de patrocínio junto à iniciativa privada. O FCBA está estruturado em 4 (quatro) linhas de apoio, modelo de referência para outros estados da federação: Ações Continuadas de Instituições Culturais sem fins lucrativos; Eventos Culturais Calendarizados; Mobilidade Artística e Cultural e Editais Setoriais. Para mais informações, acesse: www.cultura.ba.gov.br

Acho Digno: A revista eletrônica no mês de setembro completou dois anos de existência e segue na linha de ser uma publicação especializada em retratar o indivíduo negro sem estereótipos. Atualmente com nove edições publicadas tem o intuito de apresentar trabalhos de qualidades que estão sendo desenvolvidos por artistas de diferentes regiões do Brasil e do exterior.  Pensando nesse coletivo e no cenário cultural, a revista quer apresentar o que as pessoas estão produzindo/fazendo para que possamos conhecer os seus trabalhos, nos orgulhar e termos referências. A proposta da Acho Digno é dialogar com o público questões referentes à cultura, comunicação, moda, educação e assuntos relacionados à temática racial. A Acho Digno busca trazer o novo, a beleza de cada indivíduo e o prazer em fazer arte.  


SERVIÇO
O QUÊ: Oficina de Comunicação para jovens e artistas comunitários
QUANDO: de 10 a 14.10.2016 (segunda-feira a sexta-feira)
HORÁRIO: 8 horas às 18 horas
INSCRIÇÃO: No blog da revista (www.achodignoarevista.blogspot.com.br
Entrada Franca | Contato: (71) 98673-5912 Camila de Moraes

Clique AQUI para fazer o preenchimento do formulário da Oficina de Comunicação para jovens e artistas comunitários. Os selecionados serão comunicados por e-mail até o dia 08.10 (sábado).



SERVIÇO
O QUÊ: Oficina de Comunicação para jovens e artistas comunitários
QUANDO: 10.10.2016 a 14.10.2016 (segunda-feira a sexta-feira)
HORÁRIO: 8horas às 18horas
ENTRADA FRANCA




Por Ni Brisant*
           

Literatura é quando uma história nos convence de que a realidade pode ser outra(s), algo acima dos sonhos e das mazelas cotidianas. Não uma esperança convicta e anunciada, mas uma rachadura no muro de uma rua sem saída – para alguém que precisa chegar do outro lado. No entanto, literatura não é só isso.

            Cidinha da Silva chega ao seu nono livro com o vigor e o ritmo próprios de quem já viu demais, sentiu muitas e não tem linha nem tinta para desperdiçar. Não cabem panfletos ou quebrantos. Vale mais caminhar e propor pistas de outras histórias: horizontais, obviamente.

            Sobre-viventes é fertilidade criativa e crítica. Tocando em questões raciais, políticas e de gênero sem cair no mingau ralo do discurso pronto, das obviedades calcificadas. Narrativas de dentro. Os personagens são palpáveis, são gente, não bonecos representando instituições – como se tornou comum ler por aí. Não se trata de crônicas produzidas para agradar grupos. É o que precisa ser dito. Menos dedo na cara e mais desafios à reflexão, propositivo. Do nojo à simpatia, causam os sentimentos mais complexos. Indiferença é que não. Aí está o encanto maior, a gente lê como se assistisse. E, naquele instante, quando você pensa que flagrou o ideal do livro, Cidinha te põe pra catar cavaco, revela a imensidão de seu repertório, capacidade de subverter e manusear a língua (como em Setoró, por exemplo).

            O leitor não é testemunha, é cúmplice. Real como o agora (sem ser vulgar), cada crônica tem um coração como matéria-prima. Ora pelo afeto, ora pela sangria.       Extraídos de situações convencionais, como novelas, transportes públicos, redes sociais e noticiários, os casos passam pelo filtro da autora e deixam a suspeita-sensação de que aquelas personagens são todas partes de nós.

            Não por acaso, o título permeia e amplia os sentidos de todos os textos do livro. Com fôlego e parágrafos mais longos, as crônicas que denunciam violências (em geral) trazem um olhar jornalístico mais apurado em detrimento da poesia, que caracteriza as de cunho narrativo. E como preservar o lirismo em meio a tanto horror? Pois é, o texto que mais utiliza recursos poéticos se chama A Guerra.      Cidinha da Silva recorre o tempo todo às memórias de pessoas que tiveram (e/ou têm) o exercício pleno de suas humanidades negado. A autora não entrega tudo, muitas vezes prefere deixar o caso suspenso – como quem diz: “Receba. Você que continue, se quiser...” Por isso é necessária uma leitura dedicada para perceber os silêncios destas memórias femininas e negras – sobretudo. Se algumas crônicas permitem a vastidão da subjetividade, por outro lado, outras explicitam uma posição definitiva em defesa de lutas ancestrais. Sua fala em O leilão da virgem e a fita métrica é emblemática e ecoa: “Eu juro a vocês, seria mais feliz ao falar de flores, amores e pássaros, mas esse pessoal não nos deixa criar em paz.”

            Um livro atento às emergências e contradições do nosso tempo. É uma trovoada neste aquário de literatura marginal. Dialogando com sentimentos imprevisíveis, toda uma tradição de resistência através de traços, cantos, sabores, sons, cores etc, Sobre-viventes não inventa a roda da literatura, mas faz com que ela gire com mais diversidade e reticências.

            Mais ou menos como diria Criolo (artista citado no livro), saber a hora de parar é para gente sábia. E a julgar pela qualidade literária que vem apresentando nestes anos todos, a história de Cidinha da Silva não conhecerá fim.



*Ni Brisant é educador e poeta. Baiano residente em São Paulo, lê e escreve para ter no que acreditar.